Atropelamento, Festa que Virou Pancadão e Brigas na Câmara: O Dia em que Guarulhos Pegou Fogo
Discussões acaloradas, acusações, denúncias e até quase vias de fato marcaram a 34ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal, realizada na segunda-feira (16). Tudo começou com um atropelamento após uma festa no Parque das Nações — e terminou em gritaria, troca de ofensas e críticas pesadas entre vereadores.
O clima na Câmara de Guarulhos na última segunda-feira (16) foi simplesmente explosivo. O estopim foi um episódio ocorrido na madrugada do dia 8 de junho, quando duas adolescentes, de 15 e 16 anos, foram atropeladas na Rua Campo Maior, no bairro Parque das Nações, logo após participarem de uma festa junina que, segundo relatos, virou um pancadão.

Discussão durante a 34ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal — Foto: Reprodução/Internet
O caso foi trazido ao plenário pelo vereador Delegado Gustavo Mesquita, que apresentou o Requerimento nº 404/2025, cobrando informações da Prefeitura sobre as autorizações para o evento.
A festa começou como quermesse, com autorização para fechar a rua, e depois virou pancadão, um festival do crime, que resultou no atropelamento trágico. [...] Fica meu alerta: cuidado com esses pedidos, vem como festa junina e vira pancadão, gerando revolta na comunidade, afirmou o vereador Gustavo Mesquita.
A declaração acendeu um pavio no plenário. O vereador Luiz da Sede, que integra a comunidade religiosa organizadora da festa, reagiu de imediato:
Essa festa é tradicional, tem todos os documentos, todas as licenças. O que aconteceu foi depois das 23h, quando a festa já tinha terminado. Agora, querer dizer que foi pancadão, que é culpa da igreja, é um absurdo. A gente não dá conta do que acontece depois que o evento. [...] Chefe o senhor quer tomar conta da cidade inteira? Quando o senhor era delegado eu não vi o senhor fazer nada. Agora quer tomar conta da cidade inteira. Daqui a pouco não precisa nem de prefeito, o senhor faz tudo, rebateu o vereador Luiz da Sede ao vereador Gustavo Mesquita.
Tentando apaziguar os ânimos, o vereador Welinton lembrou que já passou por situação semelhante, quando autorizou uma festa beneficente que também acabou virando uma confusão.
O alerta do delegado é válido. Às vezes, a gente é usado. A intenção é ajudar, liberar uma festa para arrecadação ou algo comunitário, mas depois vira bagunça. Aconteceu comigo, concluir Bezerra, de forma apaziguadora
Mas o clima não baixou. Pelo contrário, a discussão se tornou ainda mais intensa quando Mesquita voltou à tribuna:
Devido às falas do vereador Luiz da Sede, que eu respeito muito, acredito que talvez tenha havido uma interpretação equivocada — não só dele, mas possivelmente de outros vereadores também. Na verdade, o requerimento que apresentei tem como objetivo apenas questionar quais foram as providências adotadas pela GCM e demais órgãos da municipalidade em relação ao episódio da festa julina. Quero reforçar: não sou contra festas juninas. Meu papel, como vereador, é fiscalizar, é buscar informações, é proteger os interesses da população. E preciso deixar claro também: com todo respeito aos colegas, eu não sou um vereador de reduto. Eu sou vereador de Guarulhos inteira, e acredito que nosso trabalho aqui deve ser coletivo, colaborativo e voltado para toda a cidade, não apenas para um bairro ou uma região específica.discursou o vereador Gustavo Mesquita na tribuna.
O comentário inflamou ainda mais o plenário, especialmente quando Mesquita,
foi a tribuna para expor algo que, segundo ele, algo que representa muito como estão as coisas na câmara municipal de Guarulhos
Segundo ele, após ser questionado pela imprensa sobre a ausência de sua assinatura no documento, procurou diretamente o vereador Rafa Marques, autor da proposta, para esclarecer a situação.
Fui perguntar ao vereador Rafa, e ele, meio sem jeito, me respondeu que tem um grupo aí que não quer a minha presença nessa CEI [...] Fui excluído porque tem um grupelho que não quer a minha presença. É o teatro das tesouras. Um jogo da política velha, mofada e cansada, concluiu Mesquita
O debate subiu de tom, e o vereador Edmilson fez uma resposta dura, com críticas incisivas.
Vossa Excelência é de uma arrogância absurda. Vive de teatro, de recorte para internet. Na Secretaria de Segurança, o senhor era delegado de porta, nunca correu atrás de bandido. Só usa a tribuna para se autopromover. Isso aqui não é palco para campanha de deputado, afirmou o vereador Edmilson ao vereador Gustavo Mesquita
A troca de ofensas escalou rapidamente. O vereador Cleber entrou na discussão e ironizou:
O vereador Edmilson é apaixonado pela pistola do delegado. Só sabe falar disso. Toda vez que sobe aqui é para falar da pistola. Está obcecado.concluiu o vereador Cleber Ribeiro.
Durante seu discurso na plenária, o vereador Cleber deixou a tribuna e se dirigiu até o local onde ocorria a discussão generalizada entre os vereadores Edmilson e Mesquita. No meio do tumulto, um assessor do vereador Mesquita chegou a entrar no plenário, em meio à confusão e troca de acusações.
Peço aos assessores que não entrem no plenário. Se o pau comer aqui, é entre vereador, não é com assessor, tá ok? [...] Eu peço também aos vereadores: não intervenham. Se eles quiserem conversar, discutir, se o pau comer, deixa comer. Eles que se entendam, concluiu o presidente Martelo.
Os vereadores Edmilson, Cleber Ribeiro e Delegado Mesquita atenderam à reportagem do Conexão Guarulhos e apresentaram seus posicionamentos. Já o vereador Luiz da Sede, até o fechamento desta matéria, não respondeu aos contatos da redação.
Fato é que a fiscalização, o debate e a cobrança por soluções são pilares fundamentais da democracia e do papel do vereador. O que não pode — e não deve — se perder é o limite entre o embate de ideias e o respeito às instituições e à própria cidade. Quando o foco permanece no interesse público, quem ganha é Guarulhos.