Fernanda Carvalho

— Foto: de Estella Braga

C.G: Como foi o início da sua carreira?

D.C: Comecei na igreja, com 15 anos de idade, a dançar e a atuar. Peguei um gosto já que me dava possibilidades de existir, ainda que tivesse resistência da minha mãe que não me apoiava. Mas é isso, logo aos 19 anos eu fui fazer teatro nas Oficinas Culturais que tinham aulas gratuitas no Teatro Nelson Rodrigues (que hoje está fechado e deteriorado, infelizmente) com a Eliana Sotero , eu entendi que o teatro era meu lugar, que aquilo me brilhava os olhos. Daí fui pro teatro Musical com a Tati Gurgel - hoje amiga de longos papos - e também iniciei os estudos da licenciatura em artes visuais na Fig Unimesp - cujo curso, único na região, fechou também. Pra mim o fazer artístico é sempre igual, muda a técnica, mas é a mesma fita.

Sempre tentava ocupar minha a vida de arte já que funcionava como um oxigênio pra mim e eu já fiz de tudo: Festa infantil, cabeção, contação de história, comenta Dico.

Estudei muito na Cia de teatro Musical enquanto dava aulas em diversas escolas, essa época era um corre maluco. Só que antes da pandemia eu já comecei a repensar várias fitas, inclusive a questão de gênero e na pandemia foi quando tudo se transformou. Me apeguei a minhas músicas e cadernos, produzi várias coisas massas e fui descobrindo uma nova pessoa que sempre fui... A Dico. Daí veio a artista visual com os lambes, a produtora, a design e seguimos no corre!

C.G: Sua arte vai para muitos lados, hoje você está fazendo qual corre?

D.C: Eu tô hoje nas artes visuais, com meus lambes que tem me movido a criar outros formatos. Estou na produçao e organização junto ao coletivo Nossa Casa Artes e Terapias que faz um trampo importante de fomento ao corre guarulhense nas artes, saúde, diretos e economia criativa. Também estou na arte educação com oficinas com o Cocria e Museu das Favelas e atualmente junto ao Educativo da exposição de Maxwell Alexandre - Novo Poder: Passabilidade - no Sesc Guarulhos que tem sido mágico e transformador pra minha carreira, com desafios que só provam o meu tamanho

C.G: O que você mais gosta no seu trabalho?

D.C: A troca. Ser artista da cena ou da rua exige presença, exige olhar, escuta. No lambe eu tô em troca com o mundo e parece que sendo trans, é mais fácil as pessoas me entenderem por meio de um lambe. Ali, não tem estigma nem preconceito, são palavras e imagens num papel. E hoje os espaços que ocupo - Nossa Casa, Sesc - me chamam pra essa troca, tanto no verbal quanto nas trocas que só a presença permitem.

— Foto de Vitória Silva

C.G: O que você quer deixar para o mundo?

D.C: Quero deixar aquilo que parece que a vida na cidade vai tirando de nós: a possibilidade, a esperança, o olhar para si e pra nossa individualidade e coletividade. Me entender trans mudou tudo, parece que as pessoas já criam imagens de nós sem que falemos nada.

Por isso que na Nossa Casa buscamos fazer as coisas na linguagem que nos contempla, com equidade, consciência e respeito. Quero e faço isso reverberar entre meus lambes, canções e vivências.

"Eu brilho, com o brilho das pessoas ao redor".

Ainda que seja uma pessoa bem política, uma pessoa trans feminina pensar amor, esperança e afeto me parece algo massa pra deixar pro futuro.

C.G: Quais são seus próximos passos?

D.C: Pros próximos meses sigo enquanto educadora com oficinas lá no Sesc Guarulhos, Também teremos na Nossa Casa a nossa festa mais baladeira, a Noite das Gostosuras, que terá uma temática bem retrô , de festa do farol, inspirada na música do Tim Maia, Acende o Farol. Aí Novembro tá com uma programação babado de oficinas, vivências e estamos organizando com coletivas de marchar na Marcha das Mulheres Negras em Brasília, dia 25 de novembro, além da Festa Preta que já tem sua tradição na Casa. Também teremos ação da Marcha da Maconha Guarulhos em 29 de novembro no Cecap.

Agora ano que vem quero voltar pros palcos. Tenho sentido falta de cantar e atuar, do trabalho em grupo. Sinto falta também de estar entre pessoas trans, algo que foi transformador esse ano junto a residência de moda que tive com a Vou Assim. Quem sabe um grupo de estudos teatrais não se forme ano que vem?

— Imagem: divulgação

E está chegando no dia 17 de outubro de 2025, 1° edição de “Embrasa”, conta com as presenças de: Gustrago, Arielly Porto, Victor Cali e Cássia Silva. O evento acontece na Nossa Casa- Artes e Terapias, que fica: Av. Avelino Alves Machado, 363 - Jardim Pinhal, Guarulhos - SP, 07120-000.Mais informações no Instagram: @nossacasa_at

Se você gostou da Dico e quer conhecer mais sobre seu trabalho entre em suas redes sociais @adicotomia