Fernanda Carvalho

— Foto: divulgação

C.G: Como você se interessou por cinema?

R.M: Desde criança eu adorava contar histórias de horror, inventar criaturas, personagens e até assustar as pessoas ao meu redor, sempre fui apaixonado por cinema e muito cedo me tornei fã de José Mojica Marins, ao descobrir seus filmes que eram exibidos tarde da noite na tv. Quando surgiu o concurso para escolher o sucessor do Zé do Caixão, em 1998, vi ali uma chance de me aproximar dele — e isso mudou minha vida.

C.G: Qual dos seus trabalhos você mais gosta e por quê?

R.M: Tenho carinho por todos, mas A Noite das Vampiras ocupa um lugar especial. É o meu primeiro longa-metragem e representa uma conquista enorme para mim, gosto dele porque consegui imprimir minha identidade, meu humor, meu olhar particular sobre o gênero e porque ele nasceu de muito esforço coletivo e principalmente poder trabalhar com amigos e amigas como as atrizes que sempre admirei, como Nicole Puzzi, Débora Munhyz e Liz Marins (que além de tudo é minha madrinha) e fizeram história no cinema nacional.

Rubens Mello — Foto: divulgação

C.G: Sobre o filme “A Noite das Vampiras”, como surgiu?

R.M: A Noite das Vampiras, nasceu durante a pandemia e eu estava vivendo momentos muito difíceis: perdi meu amigo e guitarrista na época tive crises de ansiedade e para não sucumbir ao isolamento comecei a escrever o roteiro. Por isso escolhi a comédia — porque eu já estava vivendo um verdadeiro filme de horror na vida real. A maior dificuldade foi conciliar esse processo emocional com a falta de recursos do cinema independente, mas transformar tudo isso em criação acabou sendo terapêutico.

C.G: Qual foi a maior dificuldade para fazer esse filme?

R.M: A maior dificuldade foi unir todas as etapas com poucos recursos: orçamento limitado, locações diversas e distantes entre si, equipe reduzida e nenhum apoio institucional Além disso A Noite das Vampiras, foi realizado ainda durante a pandemia — em um período de aparente alívio no final de 2021, pouco antes da grande explosão de casos em janeiro de 2022.

Sou transplantado renal, então a preocupação com a minha saúde e da equipe eram enormes. Por isso, tivemos que tomar o máximo de cuidado em todas as etapas: testagem, redução de equipe, protocolos rígidos, adaptações constantes e um planejamento minucioso para evitar riscos. Mesmo assim, a paixão da equipe compensou cada obstáculo. Improvisamos muito, transformamos limitações em estilo e confiamos no nosso instinto criativo para fazer o filme acontecer.

— Imagem: divulgação

C.G: Dia 18/11 A Noite das Vampiras será exibido no Cine Bento. O que você está achando desse projeto?

R.M: Para mim, é emocionante. Quando eu era jovem, vivia assistindo aos filmes exibidos nos anos 80 e tenho um carinho enorme pelo Cine Bento e por sua importância cultural em Guarulhos. Ver A Noite das Vampiras, sendo exibido ali tantos anos depois, é como fechar um ciclo: levar meu primeiro longa para o mesmo ambiente que me formou como espectador.

Além disso o Cine Bento, tem um papel essencial na preservação da identidade cultural da cidade. É um espaço que para a maioria dos produtores guarulhenses, representa uma rara oportunidade já que muitos enfrentam enorme dificuldade para encontrar salas que acolham e valorizem suas obras nesse contexto o Cine Bento, torna-se um ponto de resistência e incentivo ao cinema feito aqui.

Por isso ter um filme local exibido justamente num cinema histórico da cidade é uma conquista simbólica e afetiva. É uma oportunidade de reencontrar o público, celebrar o cinema nacional e homenagear um lugar que fez parte da minha própria história — e da história cultural de Guarulhos.

Você não pode ficar de fora desse programa, participe do Cine Bento, ao final da exibição terá uma roda de conversa com os artistas.

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